sábado, 28 de fevereiro de 2015

Os fãs de ficção científica do munto inteiro estão em luto com a notícia da morte de Leonard Nimoy, o eterno Spock, personagem de Jornada nas Estrelas. O ator lutava contra a doença pulmonar crônica obstrutiva e, aos 83 anos de idade, não sobreviveu ao seu estágio avançado. Apesar de ter anunciado a aposentadoria em 2011, Nimoy continuou a atuar em séries e no cinema, sendo seu último trabalho o longa Além da Escuridão - Star Trek, de 2013, dirigido por J.J. Abrams. 

Lirinha recita Chico Pedrosa

Uma nação só vive porque pensa

Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a riqueza não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça ser glorificada na História - como rijos músculos num corpo e ouro farto numa bolsa não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas aringas e incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e morta, que, para lucro da Civilização, os civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir o animal pensante. E por outro lado se o Egito ou Tunis formassem resplandescentes centros de ciências, de literaturas e de artes, e, através de uma serena legião de homens geniais, incessantemente educassem o mundo - nenhuma nação mesmo nesta idade do ferro e de força, ousaria ocupar como um campo maninho e sem dono esses solos augustos donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das ideias e das formas. 


Só na verdade o pensamento e a sua criação suprema, a ciência, a literatura, as artes, dão grandeza aos Povos, atraem para eles universal reverência e carinho, e, formando dentro deles o tesouro de verdades e de belezas que o Mundo precisa, os tornam perante o Mundo sacrossantos. Que diferença há, realmente, entre Paris e Chicago? São duas palpitantes e produtivas cidades - onde os palácios, as instituições, os parques, as riquezas, se equivalem soberbamente. Porque forma pois Paris um foco crepitante de Civilização que irresistivelmente fascina a Humanidade - e porque tem Chicago apenas sobre a terra o valor de um rude e formidável celeiro onde se procura a farinha e o grão? 



Porque Paris, além dos palácios, das instituições e das riquezas de que Chicago também justamente se gloria, possui a mais um grupo especial de homens -Renan, Pasteur, Taine, Berthelot, Coppée, Bonnat, Falguières, Gounot, Massenet - que pela incessante produção do seu cérebro convertem a banal cidade que habitam num centro de soberano ensino. Se as Origens do Cristianismo, o Fausto, as telas de Bonnat, os mármores de Falguières, nos viessem de além dos mares, da nova e monumental Chicago - para Chicago, e não para Paris, se voltariam, como as plantas para o Sol, os espíritos e os corações da Terra. 



Se uma nação, portanto, só tem a superioridade porque tem pensamento, todo aquele que venha revelar na nossa pátria um novo homem de original pensar concorre patrioticamente para lhe aumentar a única grandeza que a tornará respeitada, a única beleza que a tornará amada; - e é como quem aos seus templos juntasse mais um sacrário ou sobre as suas muralhas erguesse mais um castelo. 

Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

Mané Pipoca

Filosofia do Blefe – uma simulação

Quem joga poker diz que o blefe é imprescindível e que o bom jogador tem que saber blefar. Quem blefa, o faz fingindo ter ótimas cartas na mão. Há uma enganação, uma espécie de trapaça, ainda que seja uma trapaça leve, já que o blefe é quase uma regra do jogo. Pelo que entendi, o jogo de poker implica a regra e a enganação como uma espécie de sub-regra, algo que deve ser aceito e que, bem feito, chega a ser uma espécie de mérito. Melhor para quem tem talento, pior para quem não consegue. No blefe, há a aposta na credulidade alheia com a qual o blefador mantém sua posição como uma espécie de dono da verdade, mas não se trata de nenhuma verdade. Essa é a posição de poder sobre o adversário – o otário em jogo – mesmo que essa posição seja provisória e o blefador possa ao fim da jogada se dar muito mal. Bem provável que haja um prazer por si só nesse gesto de blefar mesmo que o resultado não seja o desejável.
O blefe é muito mais uma espécie de simulação do que de mentira. Na canção “Poker Face” de Lady Gaga, a blefadora faz cara de estar a fim, de estar amando, mas não está. Simula estar só para ver o que o outro faz com o que ela fez, com sua cara de simulação. Quem lê o “Manual do Blefador” usa os “conhecimentos” ornamentais recém adquiridos, bem decorados, para demonstrar entender de um assunto, o que só é possível ao nível do uso diante de outros que entendem tão pouco quanto ele. O Manual do Blefador não serve para falar com especialistas, mas apenas para encenar um saber evidentemente falso em certos contextos que pedem um jogo falso. A dissimulação seria inevitável, mas já não precisamos dela, porque os limites entre o verdadeiro e o falso implodiram. Simulamos num acordo geral em que ninguém fará denúncias senão para voltar às regras do jogo.
O falso se torna verdadeiro dentro do falso. O blefe seria, em certos contextos, uma espécie de cinismo oculto. Talvez uma mistura do verdadeiro com o falso na qual é impossível detectar onde começa a mentira e onde está a verdade. Um estar no tempo do talvez. Um sim e um não ao mesmo tempo. O bom blefador deixa o outro em suspenso. O bom blefador é sempre meio perverso: sua satisfação está em ver o rosto do outro acreditando nele. Poker Face no espelho invertido em que se estampa o rosto do otário. O otário feliz em pensar que sabe o que não sabe. Feliz provisoriamente como está o seu algoz.
Se colar, colou
Na literatura, nos meios de comunicação, no cinema, na televisão, tudo parece obedecer a uma espécie de lógica do blefe. É a lógica do “se colar, colou”. A imprensa, a indústria em geral, o mercado, todos produzem mercadorias como trapaça. Se colar, colou. A indústria dos utensílios inúteis, as bugigangas do consumismo, são efeito dessa lógica em que alguém aposta que o outro vai cair no blefe. Talvez não seja um exagero dizer que todo consumo depende do blefe. Ou seja, o consumidor está sendo enganado e consentindo com a enganação porque ela é a sub-regra do jogo do consumo.
A lógica do blefe rege a educação reduzida à mercadoria: simulamos educar nossos filhos, as escolas simulam transmitir conhecimento. A educação escolar não significa nada, o conhecimento não é mais do que algo vazio, um nome que se usa para sustentar a instituição. A indústria do vestibular talvez seja o melhor exemplo do blefe diante do qual comprar um diploma seria cinismo. O conhecimento é simulado tanto na escola quanto na loja onde o vendedor passa a impressão de que um sapato não é apenas um sapato, de que um eletrodoméstico não é apenas um objeto útil, mas algo carregado de informação. Hoje em dia o vendedor é mais informado sobre o vinho do que o estudante sobre o que ele realmente aprende que não seja para alcançar a média nas provas. Todos estão unidos na regra do “se colar, colou”.
(Entender o blefe é fundamental para entender a lógica de nossa cultura. Uma filosofia do blefe seria capaz de expor traços fundamentais de nossas relações em geral. Mais ainda, dessas relações enquanto implicam jogos de linguagem e jogos de poder. Onde começa a linguagem, onde termina o poder? O que escapa ao jogo?)
Vida simulada
Consideremos que o todo da experiência com a vida seja como um jogo, o blefe seria um jeito de fazer tudo não fazendo. De ser quem não se é, pelo menos por um tempo, sendo, ao mesmo tempo, aquele que se é. “Ser”, neste caso, é algo totalmente diferente de uma verdade e de uma mentira. Se lembrarmos de Caillois, o blefe seria parte do que ele chama de “Mimicry”, um jogo de fingimento, como quando ao brincar crianças usam uma personagem, por exemplo.
A vida das redes sociais dá garantias disso. Por isso, o termo simulação parece tão oportuno. Nas redes todos simulam. Ninguém é o que é, mas só o que pode, quer ou consegue ser, ou melhor, “mostrar”. O velho e antiquado verbo ser é ali reduzido ao aparecer e ao mostrar, as duas faces da cabeça de Janus. Mostrar nas redes faz parte do simular. O blefador não apenas finge que é isso ou aquilo, ele usa uma artimanha para causar um efeito sobre o qual ele não tem nenhuma segurança. De qualquer modo, o blefador testa seu poder. Ele aposta com o objeto que tem nas mãos. Pode ser dinheiro, pode ser um segredo, pode ser uma pessoa… Se tudo é blefe e a vida é só um jogo de simulação, é fácil pensar que não há mal nisso. A lógica do blefe implica que não se veja mal nele. Quem denunciar o jogo não entendeu sua regra e não poderá jogar.
Talvez que tenhamos aprendido a blefar com Deus – o grande blefador – numa aposta infinita em que fingimos ter nas mãos cartas melhores do que de fato temos. O bom blefador olha para a crença do outro na sua enganação e, pensando que Deus é apenas mais uma simulação, sabendo que tudo é permitido, vai dormir e se finge de morto.
Talvez essa conversa toda não seja mais do que um blefe…
Márcia Tiburi
*Publicado originalmente na Revista Cult

Pedaços de mim

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Já Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
Martha Medeiros

Fotografia


Cortina de água
Corredor participa da maratona de Tel Aviv, em Israel. Foto: Abir Sultan/EFE

Treinamento de inverno
Soldados do Exército da China participam de atividades em temperatura de 10 graus negativos. Foto: China Daily/Reuters

Arte nas ruínas
Criança palestina passa ao lado de um mural pintado pelo artista britânico Banksy, na Faixa de Gaza. Foto: Mohammed Abed/AFP

Australian Airshow Internacional
Pilotos fazem acrobacias no primeiro dia do evento, no Avalon Airfield, em Melbourne. Foto: Paul Crock/AFP

Esporte popular
Crianças afegãs jogam cricket em um campo de refugiados nos arredores de Mazar-i-Sharif. Foto: Farshad Usyan/AFP

Minha avó Felícia foi visitar uma irmã, quase dez anos mais velha. Encontrou-a no parapeito da janela. 
- Vou me jogar, disse ela.
- Não faça isso! exclamou Felícia. 
- Quero morrer!
- Querida irmã, faltam quatro anos para você completar cem! Seja paciente, espere um pouco... você vai morrer de qualquer jeito.
- Pode ir embora, agora!
No dia seguinte, Felícia telefonou:
- Como está hoje?
- Como quer que eu esteja? Você disse que vou morrer..."

Sheila Leiner
Fonte aqui

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Quando eu morrer quero ficar

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.



Mário de Andrade

Charge



Sussurro nas galerias

A cúpula da catedral de São Paulo, em Londres, apresenta um fenômeno arquitetônico interessante, chamado de “galeria do sussurro”. Um site explica o fenômeno desta forma: “Esse nome é dado porque uma pessoa que sussurra diante da parede de um lado pode claramente ser ouvida no outro, já que o som é levado perfeitamente ao redor da vasta curva da catedral”.
Em outras palavras, você e um amigo poderiam sentar em lados opostos da grande catedral do arquiteto Sir Christopher Wren e manter uma conversa sem precisar ir além do sussurro.
Apesar de ser uma característica fascinante da catedral de São Paulo, pode também ser um alerta para nós. Aquilo que dizemos sobre outros, em segredo, pode viajar tão facilmente quanto os sussurros viajam por aquela galeria.

Prof. Menegatti

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pais oferecem mais de R$ 700 mil para que filho desempregado saísse de casa e nunca mais os procurasse

Um jovem desempregado contou na internet sobre a oferta que recebeu dos pais. Eles ofereceram 250 mil dólares (cerca de R$ 717 mil) para que o rapaz saísse de casa e nunca mais os procurasse.

A postagem foi feita no site Reddit depois que o envolvido aceitou o dinheiro. Sua intenção ao divulgar a história era pedir conselhos de como investir a quantia.

O homem anônimo alegou que nunca teve uma boa relação com os pais. “Sempre fui a causa perdida. Meu irmão era melhor que eu em tudo”, contou.

Um jovem desempregado contou na internet que recebeu dos pais a oferta de mais de R$ 700 mil para saísse de casa e nunca mais os procurasse.

“Eu era apenas um pouco acima da média, enquanto ele era sempre o melhor em tudo: academia, esportes, vida social…”, disse.

“Não sei porque meus pais tinham vergonha de mim. Sempre fui uma criança tranquila, fazia o que precisava fazer e não intrometia na vida de ninguém”, continuou.

Ele contou que sempre sofreu comparações, e, depois que o irmão morreu em um acidente, as coisas só pioraram. “Desde então, as comparações só aumentaram”.

O relacionamento entre o rapaz e a família melhorou quando ele foi para a universidade.

Porém, atualmente ele está desempregado e voltou a viver na casa dos pais enquanto procurava trabalho.

“Passei meses procurando emprego, sem muita sorte. Na semana passada (após a proposta), meus pais me disseram que tenho um mês para sair de casa e não entrar em contato com eles novamente”, concluiu.

Fonte: Mirror

Pregação solitária


O agora senador Antônio Reguffe pretende economizar 16 milhões de reais dos cofres públicos. Como? Dispensando mordomias e cortando exageros que o cargo oferece

José Antônio Reguffe se tornou um especialista na arte de criar constrangimentos a seus pares. Em 2006, quando foi eleito deputado distrital em Brasília, seu primeiro ato foi renunciar às mordomias e aos benefícios do cargo. Nada de carro, motorista, verba indenizatória ou 14º e 15º salários.Enfrentou como consequência a indiferença dos colegas, mas a iniciativa repercutiu bem.

Na eleição seguinte, em 2010, tentou uma vaga no Congresso e acabou sendo o deputado federal mais votado do país em números proporcionais. Na Câmara, repetiu o exemplo. Dispensou assessores, devolveu passagens de avião, recusou cotas e auxílios disso e daquilo.

Resultado: apesar das ácidas críticas dos parlamentares, em 2014 ele saiu das urnas com o título de mais jovem senador da história do Distrito Federal. Na começo do mês, logo depois da posse no novo cargo, Reguffe anunciou que estava abrindo mão de uma série de regalias destinadas aos nobres senadores.

Em caráter irrevogável, ele não aderiu ao plano de saúde que reembolsa serviços médicos sem nenhum limite. Zerou os gastos com verba indenizatória e passagens aéreas – respectivamente, 15 000 e 6 000 reais por mês. Cortou pela metade os gastos com funcionários do seu gabinete, reduzindo o total de assessores de 55 para doze. E, como fizera na Câmara, abdicou do auxílio-moradia de 3 800 reais – uma ajuda esdrúxula para os parlamentares da capital.


(Arte: VEJA)

Durante a campanha, Reguffe foi duramente criticado pelos adversários. “Ele usa a austeridade como demagogia. Em oito anos como parlamentar, não aprovou nenhum de seus 34 projetos”, disse, durante a campanha, o então candidato do PT ao Senado, Geraldo Magela. O petista, que tinha a máquina do governo a seu dispor, terminou a disputa em terceiro lugar – e gastou 3,8 milhões na campanha, dez vezes o orçamento declarado por Reguffe.

Diante da aprovação nas urnas, o novo senador do PDT não pensou duas vezes: “Se os colegas fizerem a mesma coisa, economizaremos mais de 1 bilhão de reais dos impostos pagos pela população”. Na semana passada, Reguffe chegou ao Senado dirigindo o próprio carro. Foi barrado pelos seguranças e teve de se identificar para entrar no prédio, algo que não acontece com os parlamentares que desembarcam do carro oficial com motorista.

A austeridade do senador não poupou nem sua esposa. Embora trabalhasse no Congresso havia anos, ela pediu demissão para evitar insinuações de nepotismo.


Reportagem de Adriano Ceolin publicada em edição impressa de VEJA

Os nosso bilionários

Os dados são de 2013-2014, mas os números absolutos não importam muito. Vi-os no saite da revista Exame (http://tinyurl.com/oyuvsk6), com dados da consultoria Wealth Insight.  Outras fontes dão outros números, por diferença de metodologia. Uma fortuna inclui ações e outros papéis (e seu valor momentâneo), participação em lucros, contratos vigentes, valor de propriedades imobiliárias, etc. 

Mas, resumindo: a matéria diz que o Brasil ganharia 17 mil milionários em 2014, 8,9% a mais em relação a 2013, que era de 194.300 milionários. A estimativa é de que com mais cinco anos, em 2018, haja no país um total de 407 mil milionários. (Como esses cálculos são estrangeiros, imagino que o critério seja o dólar, ou seja, milionário é quem tem mais de um milhão de dólares, ou 2 milhões e meio no câmbio atual, mais ou menos). E os bilionários?  Cito: “Em 2012, o país tinha 49 bilionários com uma fortuna combinada de US$ 300 bilhões. Neste ano, o país ganhou um bilionário, mas o total acumulado entre eles caiu 13,7%, para 259 bilhões de dólares. Eike [Batista] é responsável por aproximadamente metade desta queda.”

Não acho, como os anarquistas barbudos, que toda propriedade é um roubo. Vai ver que uma boa fatia desse dinheiro é dinheiro justo, de quem (pra usar o jargão vigente) aqueceu a economia, gerou empregos, botou produtos nas prateleiras, pagou seus impostos.  Muitos herdaram suas fortunas, e, como já disse um aristocrata inglês, “quem herda dinheiro roubado não roubou”.

Precisamos de uma revista misturando a Forbes e a Nature, para estudar cientificamente os bilionários e milionários. Dinheiro transforma a gente. Eu mesmo, quando estou com a conta bancária cheia de zeros, fico com 10 metros de altura e 900 anos de vida pela frente.  Só não saio voando porque os bolsos estão pesados.  E esses caras? Em que pensam? Que tipo de olhar eles dirigem para os pobres? (Não falo dos famintos do Sudão ou da Nigéria: falo de mim e dos meus leitores.) São indivíduos soturnos, misantrópicos, de cérebro lagartiforme, faturando fortunas a golpes de ambição e de perfídia?  São hedonistas construindo palacetes submarinos, satélites-de-lazer, bordéis repletos de andróides e ginóides?  São capitalistas truculentos à velha moda, esmagando a concorrência, jogando dez mil famílias na miséria enquanto cuidam da catarata do seu rotweiler? Mistério.

Bilionários e milionários, sejam eles xeiques sauditas, executivos de Manhattan ou playboys latino-americanos, são uma nova espécie criada em nosso tempo, e estudá-los pode lançar luz sobre o rombo no casco do nosso Titanic, mesmo que já seja tarde demais para consertá-lo.


Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Enquanto uns têm preços, outros têm valores

Preço e valor são coisas completamente diferentes, muito embora alguns as tenham erroneamente por sinônimo. Isso vale tanto para o mundo dos negócios, quanto para as demais relações sociais. O problema maior dessa confusão é quando o que está em questão são pessoas.

Nos negócios, o preço está relacionado a dinheiro, enquanto que valor está relacionado aos benefícios agregados ao produto, tais como sentimento de pertencimento, utilidade e sentimento a ele relacionado (possui valor agregado). Quando estamos falando de pessoas, notamos que o sentido é semelhante, porém sua confusão é mais danosa.

Preço é quanto vale, em dinheiro, o produto, objeto ou até mesmo uma pessoa. Este está relacionado as suas características próprias, sem nenhum outro agregado. Já o valor não é definido pelas características próprias do produto, objeto ou pessoa, mas pelo que ele agrega.

As pessoas têm seus valores definidos a partir do que agregam ao longo de suas vidas. Seus valores dependem da educação, dos tipos de relações sociais vivenciadas. O homem nem nasce mau, como atestava Hobbes, nem mesmo bom, como aferia Rousseau; apenas nasce homem... sem valores, apenas como preço de homem.

Enquanto uns apenas têm preços, outros têm valores. O caráter destes últimos não está à venda ou pode ser mensurado por meio de “preço”, seja ele pago em dinheiro, com fama ou com poder. O seu valor não está em si, mas no que agregou ao longo da vida. Por outro lado, enquanto uns tem valores, outros têm apenas preços. Alguns destes etiquetados, aguardando um comprador; expostos em vitrines, muitas vezes em promoção. Vendem-se, trocam-se sem nenhum valor agregado. Na verdade, vende-se por preços que nem mesmo valem. Quem compra, logo percebe que uns valem muito menos que 30 moedas de prata.


Por Cristiano das Neves Bodart


Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente
Patativa do Assaré

Lobo mal e Chapeuzinho Vermelho


Alemanha usa cegos para detectar câncer de mama

Exames para detectar câncer de mama estão sendo feitos por mulheres cegas na Alemanha. A ideia já existe há alguns anos, e uma pesquisa inédita sugere que pessoas cegas podem, de fato, detectar tumores mais cedo do que aquelas que enxergam.

Esta ideia simples, mas surpreendente, passou pela cabeça de um médico alemão uma manhã enquanto ele estava tomando banho: mulheres cegas poderiam fazer seu trabalho muito melhor do que ele?

“Três minutos é o tempo que eu tenho para fazer exames clínicos das mamas”, diz o ginecologista baseado em Duisburg Frank Hoffmann.

“Isso não é suficiente para encontrar pequenos nódulos no tecido mamário, o que é crucial para detectar o câncer de mama cedo.”

Pessoas treinadas para ler em braille tem o tato altamente desenvolvido. Por isso, Hoffmann supôs que as mulheres cegas e com deficiência visual seriam mais qualificadas do que qualquer outra pessoa para realizar exames de mama em seus pacientes.

A evidência agora é inequívoca, diz ele.

Em um estudo ainda não publicado, realizado com a Universidade de Essen, mulheres cegas conseguiram detectar quase um terço a mais de nódulos que outros ginecologistas.

“Mulheres que fazem autoexame podem sentir tumores de 2 cm ou maiores”, diz Hoffmann.
“Os médicos costumam encontrar tumores entre um centímetro e dois centímetros, enquanto os examinadores cegos encontraram nódulos com tamanhos entre 6 mm e 8 mm. Isso faz uma diferença real. Esse é o tempo que um tumor leva para se espalhar pelo corpo.”

Experiência


Na Alemanha e no Reino Unido, mamografias regulares são oferecidas apenas a mulheres com 50 anos ou mais – mas, em ambos os países, o câncer de mama é a maior causa de morte de mulheres entre 40 e 55 ano, e na Alemanha, a idade das mulheres afetadas está caindo.

Hoffmann diz que fundou sua organização, Discovering Hands, para salvar vidas pela detecção precoce. Ele desenvolveu um curso para treinar mulheres cegas para se tornarem examinadoras médicas táteis (MTEs, na sigla em inglês), e agora existem 17 trabalhando em clínicas em toda a Alemanha.

Uma delas, Filiz Demir, atende cerca de sete mulheres por dia, realizando exames que podem durar até 45 minutos – o que seria pouco usual para um ginecologista.

Há pouco mais de um ano, Demir trabalhava em uma agência de viagens. Mas, quando ela completou 35 anos, sua visão se deteriorou lentamente, e fazer seu trabalho tornou-se cada vez mais difícil. Ela pediu demissão e aprendeu braille, mas não conseguia sequer ser chamada para entrevistas de emprego.

“A cegueira era minha maior deficiência naquela época”, diz ela.

“Agora, minha deficiência tornou-se minha força. Eu não sou dependente de ninguém e posso ajudar os outros. É um ótimo sentimento.”

A cegueira era minha maior deficiência. Agora, minha deficiência tornou-se minha força.”

Filiz Demir, examinadora

Curiosa para saber como Demir e suas colegas trabalham, eu decidi fazer um exame.
Usando tiras de fita marcadas com coordenadas em braille, o MTE faz uma “grade” sobre o peito. Ela examina lentamente por esta grade de modo que possa indicar a localização precisa se encontrar um nódulo.

Demir faz uma análise detalhada, mas os 30 minutos passam voando. É um ambiente descontraído e relaxante, nem um pouco desconfortável e há ampla oportunidade de fazer perguntas.

Depois de sete meses neste trabalho, Demir claramente se mostra aliviada por ter encontrado principalmente tumores benignos. Apenas algumas semanas atrás ela encontrou o primeiro maligno, que a balançou um pouco.

Mas é a minha vez de ser pega de surpresa quando ela remove as tiras em Braille e cuidadosamente me diz que encontrou algo.

Um nódulo de cada lado, na verdade.

Se eu fosse uma paciente regular na clínica, eu teria ido para a próxima sala para um ultrassom. Infelizmente, tive de levar essa informação para meu ginecologista em Berlim, onde fui encaminhada para um ultrassom e uma mamografia.

Depois de algumas semanas de espera por uma consulta, o ultrassom finalmente ficou pronto e não mostrou nada. O radiologista me disse que não fazia sentido fazer uma mamografia – e sugeriu que o examinador provavelmente só sentiu um pouco das minhas costelas.

O conselho de Hoffmann em situações do tipo é repetir o exame com o MTE algumas semanas mais tarde, na primeira metade do ciclo menstrual. Se um nódulo ainda puder ser detectado “a mamografia faz sentido”, diz ele.

É exatamente esse ciclo de check-ups que podem levar a alarmes falsos, angústia e cirurgias desnecessárias, de acordo com o professor Gerd Gigerenzer, diretor do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano.

“Conheço muitas mulheres que ficaram assustados com alarmes falsos. Algumas fizeram biópsia, que não mostrou nada, mas vivem suas vidas de mamografia em mamografia.”

Há pouco consenso sobre os benefícios dos programas de detecção de câncer de mama e se exames regulares realmente salvam vidas. Gigerenzer adverte explicitamente contra eles, e não se anima com a ideia de que agora é possível detectar nódulos menores.

“Quanto mais precisas forem as técnicas de diagnóstico, mais cânceres clinicamente irrelevantes serão detectados”, diz ele.

“Isto pode levar a cirurgias e radioterapias desnecessárias. Neste caso, a detecção precoce só prejudica.”

O método Discovering Hands, segundo ele, está fora de julgamento até que a equipe possa fornecer provas que comprovem que a técnica de fato reduz a mortalidade.

Um estudo sobre o assunto está previsto para ser concluído e publicado ainda este ano.

Paciente


Enquanto isso, uma das pacientes de Hoffmann, Heike Gothe, me diz que deve sua vida a uma dessas examinadoras.

Ainda tendo que lidar com a morte prematura de seu marido por doença, Gothe assumiu o comando do negócio da família, uma pequena empresa de exportação internacional de sucesso. Mas não demorou muito para que ela recebesse seu próprio diagnóstico.

“Eu tinha sentido um caroço no meu seio direito e fui ver o médico”, diz Gothe.

“Eles confirmaram o que eu tinha encontrado e, em seguida detectaram um pequeno nódulo no lado esquerdo, com apenas 2 milímetros de tamanho. Ele nem sequer apareceu na ultrassonografia ou mamografia, apenas o MTE cego sentiu.”

O encontro deste pequeno tumor pode ter salvado sua vida. Ambos os tumores foram diagnosticados como malignos, mas com quimioterapia e radioterapia, ela superou o câncer.

Gothe é uma batalhadora, mas ela credita sua energia e positividade a estes exames feitos por um MTE a cada seis meses. Segundo Gothe, é assim que ela consegue dormir à noite e tocar seu negócio.

“O medo aparece de vez em quando”, diz Gothe. “E só consigo lidar com isso porque sei que estou em boas mãos.”

Algumas companhias de seguros alemães também estão convencidas. Seis delas agora cobrem os custos para os seus pacientes fazerem esses exames clínicos das mamas.

Enquanto novos MTES ocupam cargos permanentes em clínicas por toda a Alemanha e na Áustria, o fundador do Discovering Hands, Frank Hoffmann, está em negociações com Israel e Colômbia. Ele vê oportunidades ainda mais longe.

“Estou convencido”, diz ele, “de que, especialmente em países que não são tecnicamente tão avançados como a Alemanha, este modelo poderia melhorar a qualidade de normas médicas muito dramaticamente.”



Por Abby D’Arcy  Do BBC




"Pracas"







terça-feira, 24 de fevereiro de 2015