sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Cangaço de 30 na Paraíba

Tempo-eixo de sua História, a chamada Revolução de 30 tem motivado múltiplas abordagens na Paraíba. Tais abordagens, constantes de ensaios, comunicações, artigos, filmes e peças de teatro, culminaram com as colocações do Centenário de João Pessoa, em 1978, e centenário do Levante de Outubro, em 1980. Deles resultaram duas coletâneas de altíssimo nível – João Pessoa, a Paraíba e a Revolução de 30 (1979), de Abguar Batista et alii, e Revolução de 30 – Discussão final (1984), coordenada pelo então deputado Marcondes Gadelha, Esta última incorporou-se à Historiografia do IV CENTENÁRIO DA Paraíba, também crítica e revisionista, em 1985.
          
A visão desses estudos consistiu em que, antecedida pela presidência João Pessoa, que arrebatou as funções públicas das mãos dos coronéis, para montagem de estado autoritário, modernizador e corporativista, a Revolução de 30 voltou-se contra o coronelismo devido ao centralismo que a inspirou. Influenciada  por segmentos estatizantes como as nascentes burguesia industrial e classe operária, estratos médios e Exército, a Revolução de 30, consagrando o monopólio da violência legal das Forças Armadas, procurou erradicar o cangaço, como braço armado do oligarquismo rural. Datou daí o empenho de eliminar bolsões dotados de milícias particulares, como as de Padre Cícero no Juazeiro, José Pereira, na Paraíba, Juvenal Lamartine, no Rio Grande do Norte; Horácio de Matos e Franklin do Pilão Areado, na Bahia. Nesse contexto, Lampião seria eliminado em 1938.
 
 
Depois de exaustivas pesquisas foi essa a conclusão a que também cheguei em A Revolução Estatizada – Um Estudo sobre a Formação do Centralismo em 30 (1984, 1994). O processo histórico de 30 colocou João Suassuna e José Pereira Lima frente a João Pessoa  e José Américo como categorias institucionais e históricas. Os primeiros representavam a força centrífuga do coronelismo, a que, através dos coiteiros, se ligava ao cangaço. Os últimos a dimensão centrípeta do Estado. Tanto é que, enquanto os primeiros fomentaram os chamados Batalhões Patrióticos, os últimos fortaleceram a Polícia Estadual.
          
Em História, todavia, é perigoso oferecer a última palavra. Quando enrijecida pelos preconceitos, essa conclusão final transforma-se em dogma e mito. Daí o moderno revisionismo histórico, mais apoiado em refazimento permanente que em certezas infalíveis.
 
Este livro constitui demonstração disto. Sessenta e seis anos depois da Revolução que consagrou movimento contrário ao coronelismo cangaceiral da dupla Suassuna/José Pereira, redescobre-se monografia contestatória da tese. Esses não teriam acoitado Lampião, mas o combatido energicamente.
 
Confesso, com toda lealdade, que os argumentos do jornalista Érico de Almeida não me convenceram. Mas entendo que a reedição de seu livro é oportuna, necessária.  A História é assim porque seu motor é a dúvida e a dialética. Palmas, pois, para o jovem geógrafo Romero de Araújo Cardoso , que redescobriu o livro, e para o não menos eficiente David Fernandes, que o reeditou.
 
Prof. Dr. José Octávio de Arruda Mello

*Historiador paraibano, professor aposentado da UFPB e visitante da UFPE. Autor de HISTÓRIA DA PARAÍBA – Lutas e Resistências.

FONTE: ALMEIDA, Érico de. Lampeão, sua história. João Pessoa: Editora Universitária, 1996. 128 p. Edição fac-similar de 1926.
 

 

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