quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Entre sem bater

Esse é o título de um conto do livro "Triângulos" da Betty Vidigal sobre o qual falarei oportunamente. Mas a leitura do conto imediatamente remeteu-me a uma história verdadeira que vou contar omitindo o nome dos personagens por motivos óbvios. Na usina de açúcar o acionista majoritário era um rei. Respeitado, temido, odiado ou amado, não passava desapercebido. Era o todo poderoso. Ainda mais quando não era herdeiro do império. Já estava na casa dos sessenta, e no escritório da usina sua sala era ampla toda forrada de lambri escuro. Sobre a porta pelo lado de fora havia uma lâmpada vermelha. Ela era acionada por um botão fixo na parede atrás da mesa do usineiro, à um metro do chão. Sua secretária tinha mesa no salão em frente a porta e a luz. Não entrava ou saí, por essa porta, ninguém sem estrita ordem dela. E zelava muito por essa autoridade. Havia na sala do chefe uma outra porta externa por onde ele entrava e saía, e só ele tinha a chave. A luz vermelha acesa era sinal de que ninguém poderia entrar pela porta do salão. Nem a secretária. Isso era sagrado. Certo dia no final da tarde a zelosa secretária se viu em papos de aranha. A luz vermelha começou a piscar. Acendia e apagava, acendia e apagava numa velocidade inédita, e num ritmo curioso. Nunca acontecido antes. A secretária estranhou, ficou uns instantes com os olhos fixos na lâmpada imaginando que poderia ser só um mau contato. Em fração de segundos lhe ocorreu que poderia ser uma emergência. Por fim assustada, não resistiu, e correu para a porta. Abriu com cuidado uma fresta e lá estava o usineiro de costas, calça arriada,  abraçado numa mulher cuja bunda, inadvertidamente, mas num ritmo compassado, apertando e soltando, apertava e soltava o botão da luz vermelha.  

Eduardo P. Lunardelli

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